Tempo de Natal. Dizem. Sente-se no ar.
Toda a gente, sobretudo no ar que se respira nas rádios, televisões e outras que tais, se sente, nos dias que correm, muito felizes, muito sensíveis ao[s] amor[es], muito vocacionados à amizade, muito empenhados em solidariedades dos mais variados tipos e maneiras.
Tempo de Natal. Dizem, é verdade. E até se sente mesmo no ar.
Andamos muitos, todos atarefados, com idéias estupendas e muito importantes, realizadas em eventos cheios de palavras amigas e desejosas de ajudar tudo e todos. E todos cá estamos, com um ar cheio de sorriso simpático, lembrando os outros. Os outros. Aqueles que, coitadinhos, precisam de que alguém lhes dê qualquer coisita.
Tempo de Natal. Dizem. Sente-se à nossa volta.
E à nossa volta, na verdade, apenas existem: nós e os outros. Os outros e nós. Bem, se calhar, os outros e os outros. Nós e nós. Este maniqueismo que teima em se manter à nossa volta, as mais das vezes, mesmo, dentro de nós...
Tempo de Natal. Dizem. Sente-se à nossa volta e dentro das nossas casas.
É pena é durar tão pouco tempo.
Porque quer-me cá parecer [e isto sem nenhum derrotismo, falta de esperança, ou sei lá o quê], durante os outros trezentos e tantos dias que o ano ainda tem, já não é [vai ser] tempo de Natal. E cada um de nós lá vai continuar a sua própria vidinha com os mesmos "sentimentos" de omissão.
Esta - a omissão - que cada vez mais me parece ser o grande pecado dos nossos tempos.
Muito embora todos os Natais que possamos ter à nossa volta.